01 novembro, 2006

De novo os desenvolvimentistas

Alguém se lembra de como FHC terminou o primeiro madanto? De como Luiz Carlos Mendonça de Barros articulou a criação do superministério da Produção, do qual seria o titular? Alguém se lembra de como os aliados (PMDB e PFL) torpediaram a iniciativa, temendo tamanho poder na mão do tucano? Afinal, a pasta contaria, na época, com R$ 18 bilhões do BNDES para empréstimos. Um superministério criado sob medida para o PSDB.
A verdade é que a idéia não resistiu à pressão dos aliados. Mendonça de Barros teve de deixar o governo desgastado após o escândalo do grampo no BNDES – que colocou em dúvida o processo de privatização da Telebrás. E a superpasta virou Ministério do Desenvolvimento, sem a estatura e os recursos que teria o da Produção. Na época também havia constantes disputas entre os monetaristas (partidários da política ortodoxa de Pedro Malan, Fazenda) e os chamados desenvolvimentistas (José Serra – Saúde – e Clóvis Carvalho – Casa Civil). Malan nunca perdeu as disputas internas da sua área.
Parece repeteco, mas não é! Não foi só no goveno Lula que se pediu ousadia na condução da política econômica.
Concretizada a vitória do petista no segundo turno, o ministro das Relações Institucionais, Tarso Genro, falando em nome de um grupo do governo, anunciou o fim da era Palocci na economia do País.
O presidente prontamente desautorizou tais declarações e tratou de conter os "desenvolvimentistas". Lula reafirmou a manutenção da política econômica e foi taxativo: "Não teve era Palocci, como não tem era Guido Mantega".
Engraçada essa disputa entre monetaristas e desenvolvimentistas. Que isso não sirva de mau agouro para próximo governo.

Liberdade de expressão e responsabilidade

Que a liberdade de imprensa é um direito constitucional e inviolável, não se discute. Que a liberdade de imprensa é um dos pilares da democracia, idem. Causa estranheza declarações na tribuna do Senado e o fato como a Folha de São Paulo, em editorial, e outros veículos trataram a intimação de jornalistas da Veja por parte da Polícia Federal.

Sempre que aventa qualquer atitude que possa suscitar o cerceamento da informação, os meios de comunicação em massa, como não poderia deixar de ser, repudiam tais atos. No afã do repúdio, não se deixaram levar pela intimação me si?

Outros aspectos precisam ser levados em conta pela imprensa ao noticiar o ocorrido. Levanto as seguintes dúvidas sobre todo o caso:

1) A PF não tem o direito de intimar um jornalista a prestar esclarecimentos sobre determinados fatos? Acredito que o tenha, assim como o próprio jornalista tem assegurado pela Constituição e pela Lei de Imprensa o direito de não dizer nada e preservar a sua fonte;

2) Alguns dos veículos que noticiaram o caso tiveram a preocupação de ver em que condição os jornalistas foram ouvidos pela PF, se é que isso constava na intimação? Ou questionaram se a transcrição dos referidos depoimentos foi entregue ao repórteres? Em caso negativo, por que não procuraram o delegado que conduziu as inquirições cobrando as tais transcrições e o porquê delas não terem sido dadas aos depoentes?

3) Se os jornalistas estavam sendo vítimas de abusos, constrangimentos ou ameaças, “em um claro ataque à liberdade de expressão”, por que simplesmente não ligaram para as redações relatando a violação de direitos? Dada a arbitrariedade, acredito que jornais, revistas e tvs deslocariam suas equipes para a sede da PF. Quer pauta melhor do que esta: logo após a reeleição presidencial, a PF tenta “intimidar” jornalistas da Veja. Acredito que isso não passaria em branco. Ou é mais fácil fazer o discurso do que investigar?

4) Não tenho informações do que realmente se passou durante o depoimento, mas, no lugar dos repórteres da revista e acompanhado de advogado, não aceitaria passivamente a violação de meus direitos constitucionais. Não deixaria para apresentar a minha versão depois que saí da PF. O caso teria muito mais repercussão se, durante o “interrogatório”, outros jornalistas chegassem para ver o que estava acontecendo naquele momento. Eles poderiam flagrar os “abusos”. Simples. Como deve ser a cobertura de uma notícia para qualquer jornalista;

5) O editorial da Folha toma como verídica, e faz uma série de reflexões, apenas a versão relatada pelos reportes da revista. E o outro lado? Cadê as provas? Sei que, ao fazer esse questionamento, muitos me dirão para perguntar às vítimas dos regimes totalitários, mas essa não é a nossa realidade;

6) A imprensa se movimenta para condenar, e este é o papel que deve mesmo desempenhar em qualquer episódio do gênero, mas vários veículos, de uns tempos para cá, deixaram de “embarcar” em muitas das “denúncias” da revista contra o governo. Quando é denúncia concreta, sempre dão algum destaque ao furo tomado, mas isso mudou. Qual jornalista nunca questionou internamente procedimentos da revista?

7) E aqui acrescento um outro dado: há professores e intelectuais da USP e da Unicamp que se recusam a dar declarações para a revista. Relato isso por experiência própria. Por que adotaram tal procedimento?

8) Não dá para acreditar que em nosso País atualmente há espaço para o cerceamento da liberdade de expressão. No mundo moderno, essas ações encontram ressonância apenas em regimes totalitários. O que não é o nosso caso;

9) O editorial da Folha exagerou ao afirmar: “O que essa manifestação de hostilidade ameaça é muito mais do que a imprensa: é o direito da sociedade de ter livre acesso à informação e à opinião”.

10) Qual a responsabilidade de um veículo ao publicar uma denúncia com base no relato de um condenado pela Justiça, que negocia a delação premiada, por exemplo? Para “cumprir”, e digo entre aspas, a tarefa de ouvir os dois lados, coloca-se a frase do acusado negando tais denúncias. Uma frase em meio a espaço completamente desproporcional a várias páginas ou minutos de acusação. O ônus da prova não cabe a quem acusa? Muitas vezes se ouve o outro lado proforma.

Em artigo na página 3, do primeiro caderno, da Folha, Rose Marie Muraro diz que “a mídia abre e fecha os caminhos da informação de acordo com o que lhe interessa”. É mentira? Vou tocar em um ponto delicado: qual é a influência que o departamento comercial exerce sobre as redações? Ouso dizer que a liberdade de expressão é inversamente proporcional ao interesse comercial.

Na verdade, muitos jornalistas brasileiros vivem, de certa forma, uma situação surreal. Os mesmos que fiscalizam a sociedade e o exercício do poder são aqueles que têm os seus direitos profissionais violados. Vou citar alguns exemplos: muitos dos principais veículos têm grande parte de sua produção editorial feita por free lance, há greve de jornalistas nos grandes meios de comunicação? Quem cruza os braços, fica quanto tempo empregado? Qual a força do sindicato da categoria? E as horas extras? Ou seja, somos bons para defender a democracia, mas não os nossos direitos, que simplesmente ignoramos.

Faz parte do jogo, mas é um jogo infeliz para que tem a tarefa de contribuir com o fortalecimento das instituições. Alguém se lembra do estrago à vida dos donos da Escola de Base?

31 outubro, 2006

Uma noite inesquecível para o presidente Lula. Pois sua vitória, de forma inconstestável, colocou os devidos pingos nos is.
Nenhum presidente foi tão criticado quanto Lula pela imprensa e o resultado pôde ser visto nas urnas: Lula, reeleito, com quase 61% das intenções de voto. Posted by Picasa

Dois amigos e um mesmo destino

Lula comemora, ao lado da primeira-dama Marisa, na Avenida Paulista, a vitória da reeleição. Abaixo, o abraço afetuoso do presidente em Devanir Ribeiro (PT-SP), reeleito deputado federal por São Paulo, um dos poucos que dizem ao amigo presidente o que realmente pensa.
Lula e Devanir ficaram presos por mais de 40 dias em 1980, durante as greves pela redemocratização do País e direitos para os trabalhadores. Posted by Picasa

Íntegra do 1º pronunciamento de Lula, em hotel no centro de SP, após confirmada vitória



“Meus amigos e minhas amigas aqui representados pelos companheiros dirigentes dos partidos que apoiaram a nossa campanha, nossos queridos companheiros representantes dos trabalhadores aqui representados pelos dirigentes sindicais, meus companheiros ministros, meus companheiros e companheiras coordenadores da nossa campanha. Eu não estou vendo aqui o governador Marcelo Miranda, do Tocantins. Ah, está aqui do meu lado aqui nosso querido governador Marcelo Miranda, do Estado do Tocantins; nosso querido companheiro Jaques Wagner, governador eleito da Bahia.

Queria dizer para vocês que eu penso que o Brasil está vivendo um momento mágico, de consolidação do processo democrático brasileiro. Acho que esse momento nós devemos ao povo brasileiro, sobretudo, ao povo que foi incluído no patamar daqueles que já tinham conquistado a cidadania. Acho que a inclusão social de milhões e milhões de brasileiros, o acerto das coisas que o governo fez e os erros que também o governo fez permitiram que nós pudéssemos chegar num processo eleitoral mais amadurecido, com mais consciência e consistência das dificuldades que o Brasil enfrenta para dar o salto de qualidade que o Brasil precisa dar.

Eu sou um homem convencido de que a lição que a democracia brasileira dá neste momento ao mundo, a começar da qualidade do processo de votação e apuração do nosso país. Em que países mais ricos do que o Brasil, mais poderosos do que o Brasil do ponto de vista econômico e tecnológico não tem. O Brasil fazer uma eleição que termina às 17 horas e às 20 horas a gente já saber o resultado de quase todo o território nacional é muita competência tecnológica e muita competência inclusive da Justiça Eleitoral brasileira.

Eu sou grato nesse momento às pessoas que confiaram, às pessoas que acreditaram. Sou grato ao povo deste país. Ao povo brasileiro que em vários momentos foi instado a ter dúvida contra o governo. E o povo sabia fazer a diferença do que era verdade, o que não era verdade, o que estava acontecendo, o que não estava acontecendo no Brasil. E, sobretudo, o povo sentiu que ali tinha melhorado. E contra isso não há adversário, porque o povo sentiu na mesa, sentiu no prato e sentiu no bolso a melhora de sua vida. O mais importante ainda é que o povo sentiu isso no seu cotidiano. Ele sentiu isso na vida dos seus amigos, na vida das suas famílias.

Eu tenho consciência de que nós demos apenas o primeiro passo. Eu durante a campanha citava muito exemplos de que nós tínhamos construído um alicerce. A bases estão usadas para que o Brasil dê um salto de qualidade extraordinário nesse próximo mandato. Primeiro, porque todos nós aqui temos mais experiência, aprendemos muito. Segundo, porque nós conseguimos o problema da macroeconomia brasileira, da instabilidade econômica.

Conseguimos consolidar nossas relações internacionais, conseguimos fazer ver que o Mercosul é uma condição importante para o desenvolvimento dos países que dele participam. Conseguimos consolidar comunidades sul-americanas de nações, conseguimos consolidar uma política internacional onde não temos adversários, mas construímos um leque de amizades em que o Brasil hoje transita com muita leveza em todos os continentes. E é ouvido porque nós aprendemos respeitar e quando a gente respeita a gente pode exigir respeito. E eu penso que tudo isso, me dá segurança de dizer a vocês que vamos fazer um segundo mandato muito melhor do que fizemos no primeiro. Muito melhor.

Não tenho dúvida que o Brasil vai crescer mais. Não tenho dúvida que vai aumentar a distribuição de renda neste país. Não tenho dúvida que vai aumentar a consolidação da política externa brasileira. Não tenho dúvida que vai aumentar o combate a corrupção deste país. Não tenho dúvida que vai continuar o fortalecimento das instituições no país. E não tenho dúvida, sobretudo, que o Brasil irá atingir um padrão de desenvolvimento que será colocado entre os países desenvolvidos no mundo.

Nós cansamos de ser uma potência emergente, nós queremos crescer. As bases para um crescimento sustentado da economia estão dadas e agora a gente tem que trabalhar. Todo mundo. Todo povo brasileiro votou exatamente porque tem esperança de que as coisas podem andar ainda mais rápido e muito melhor do que andaram no primeiro mandato.

A eleição, como vocês viram, é sempre um processo complicado. Mas ao sairmos dessa eleição e ao receber o telefonema do meu adversário, o candidato Geraldo Alckmin, eu saio com a convicção muito mais forte do que entrei na campanha de que o Brasil não pode temer, em nenhum momento, o fortalecimento da sua democracia.

As instituições estão sólidas, o povo brasileiro sabe reagir nos momentos adequados, com as atitudes adequadas. Os partidos políticos precisam se fortalecer e para isso nós vamos discutir, logo no começo do mandato, a reforma política que o Brasil tanto necessita. E é importante que ela saia. E que ela saia por consenso de todos os partidos políticos. Porque o processo eleitoral mostrou também que quanto mais fortes forem as instituições políticas mais forte e mais consolidado será o processo democrático brasileiro.

De forma que eu estou feliz. Estou feliz pela participação da sociedade nesse processo eleitoral. Estou feliz porque a sociedade conseguiu compreender o momento histórico que nós estamos vivendo no país. Estou feliz pela eleição dos governadores em todos os estados. Acho que nós poderemos construir algo muito mais forte do que nós tentamos construir em março e abril de 2003, quando nos reunimos com os governadores para fazer a reforma da Previdência e a reforma tributária.

Acho que os governadores eleitos têm o perfil de quem quer trabalhar no sentido de fazer com que haja uma compreensão de que o crescimento do Brasil precisa beneficiar o crescimento dos estados. Continuaremos governar o Brasil para todos, mas continuaremos a dar mais atenção aos mais necessitados. Os pobres terão preferência no nosso governo.

As regiões mais empobrecidas terão no nosso governo uma atenção ainda maior. Porque nós queremos tornar o Brasil mais equânime. Queremos tornar o Brasil dos seus 8,5 milhões de quilômetros quadrados mais justo do ponto de vista geopolítico, mas também do ponto de vista econômico e social. Portanto nós temos uma grande estrada a ser construída. As bases estão consolidadas, os projetos já estão consolidados. E, portanto, nós não temos tempo a perder. É trabalhar, trabalhar e trabalhar porque é isso que o povo brasileiro espera e é por isso que o povo brasileiro votou.

É por isso que hoje, na rua, todo mundo fala: deixa o homem trabalhar, porque o Brasil precisa de trabalho. E eu estou muito confiante. Como jamais estive na minha vida. Estou confiante no Brasil, estou confiante na compreensão dos partidos que perderam as eleições no estado e para o governo federal, a eleição acabou.

Agora não tem mais adversário. O adversário agora são as injustiças sociais que nós temos no Brasil e que precisamos combater. O adversário agora é a gente, todo mundo, se juntar para fazer o Brasil crescer. Fortalecer o Brasil não apenas internamente, mas fortalecer o Brasil no mundo. Nós queremos continuar fortalecendo o mercado interno, fortalecendo as exportações. E eu penso que contra esses argumentos nós não temos adversário.

Eu não tenho dúvida nenhuma que poderemos contar com a compreensão dos partidos que fizeram oposição a nós, e quero conversar com todos, sem distinção. Não haverá um único partido nesse país que eu não chame para conversar, para dizer o seguinte: agora o problema do Brasil é de todos nós. Eu tenho a Presidência, mas todos os brasileiros e brasileiras têm a responsabilidade de dar a sua contribuição para que o Brasil não perca mais uma oportunidade.

Eu disse a vocês que nós manteremos uma política fiscal dura. Porque eu aprendi não na faculdade de economia, como os meus companheiros aprenderam. Eu aprendi na vida cotidiana que a gente não pode gastar mais do que a gente ganha porque senão um dia a gente vai se endividar de tal ordem que a gente não pode pagar a dívida que contraiu.

Mas ao mesmo tempo que eu tenho a convicção de que a solução para os problemas brasileiros não é mais fazer o povo sofrer com ajustes pesados, que terminam caindo em cima do povo, mas que a solução está no crescimento da economia, no crescimento da distribuição de renda e nós provamos isso no primeiro mandato, quando nós dizíamos há muito tempo atrás que era preciso primeiro o Brasil crescer para distribuir e nós dizíamos: é preciso distribuir para o Brasil crescer, nós provamos que com o pouco de distribuição de renda que nós fizemos seja a política de transferência de renda através do Bolsa-Família, através do crédito consignado, através do salário mínimo.

Através das conquistas que os trabalhadores brasileiros tiveram fazendo acordos por reajuste maior do que a inflação, coisa que durante muitos anos nós não fazíamos, nós provamos que quando o povo tem um pouco de dinheiro ele começa a comprar, a loja começa a vender, a loja começa a comprar da fábrica, a fábrica começa a produzir, começa a gerar empregos, começa a gerar distribuição de renda, e é esse o país que nós queremos.

E é o país que eu tenho certeza que depois de quatro anos nós daremos ao Brasil aquilo que o Brasil merece e que durante tantas vezes o Brasil quase chegou lá, mas por interesses eminentemente políticos momentâneos, o Brasil jogou fora essa oportunidade. Eu não jogarei. Estão aqui meus companheiros sindicalistas.

Eu quero dizer para vocês: reivindiquem tudo que vocês precisarem reivindicar. Nós daremos apenas aquilo que a responsabilidade permite que a gente dê. Reivindiquem. Porque o mais importante - esses meus amigos sabem disso, do movimento social, do movimento sindical, dos empresários - eles sabem perfeitamente bem que a coisa mais sagrada ao terminar o mandato de um presidente da República como legado é a relação que ele conseguiu estabelecer com a sociedade, consolidando a democracia, consolidando o papel do Estado e consolidando, sobretudo, o papel da participação da sociedade.

Isso nós fizemos com muita competência e vamos continuar fazendo porque afinal de contas o Brasil não é meu. Eu é que sou brasileiro e, portanto, o Brasil é de todos. Por isso eu estou com essa frase aqui na minha camiseta para vocês lerem. A vitória não é do Lula, não é do PT, não é do PC do B, não é do PTB, PRTB. Não é de nenhum partido político. A vitória é eminentemente da sabedoria do povo brasileiro. Eu disse a vocês que eu ia mudar meu comportamento com a imprensa no segundo mandato. Vamos abrir para umas perguntas, para vocês não se sentirem. Abre aí para umas quatro ou cinco perguntas porque isso aqui não é ainda a coletiva que eu pretendo dar. Isso aqui é apenas uma fala inicial depois do resultado eleitoral.

Quero dizer para vocês mais uma coisa ainda. Quero, de público, daqui agradecer a participação jovial do meu vice-presidente da República. O Zé Alencar durante o processo eleitoral fez uma cirurgia. Os médicos não queriam que ele fizesse carreata e por onde andava o Zé Alencar já tinha participado como se fosse um menino de 18 anos. Eu agradeço a Deus de ter encontrado um parceiro de chapa como o companheiro Zé Alencar que além de ser um grande empresário ele é, sobretudo um grande brasileiro e um grande patriota. Ele não veio aqui porque eu pedi para ele ficar em Minas Gerais, afinal de contas Minas Gerais tem a sua importância, não é? Vocês viram o resultado eleitoral em Minas Gerais. Então eu quero aproveitar a imprensa para agradecer ao Zé Alencar. Já agradeci por telefone, mas quero agradecer também pela imprensa.”

"Os pobres terão preferência no nosso governo"


O presidente Luiz Inácio Lula da Silva fez o primeiro pronunciamento, depois de confirmada a sua reeleição, por volta das 20h30, no Hotel Intercontinental, em São Paulo. Lula obteve 58.295.042 votos (60,83%). Geraldo Alckmin perdeu 2,4 milhões de votos em relação ao primeiro turno, ficando com 37.543.178 votos (39,17%). Em seu discurso, o presidente afirmou: “Continuaremos governar o Brasil para todos, mas continuaremos a dar mais atenção aos mais necessitados. Os pobres terão preferência no nosso governo.”

Após a entrevista coletiva, Lula dirigiu-se para a Avenida Paulista, onde fez discurso para milhares de militantes do PT e eleitores. “Queria dizer para vocês que eu penso que o Brasil está vivendo um momento mágico, de consolidação do processo democrático brasileiro. Acho que esse momento nós devemos ao povo brasileiro, sobretudo, ao povo que foi incluído no patamar daqueles que já tinham conquistado a cidadania”, afirmou o presidente.

26 outubro, 2006

Base no Congresso será crucial para 2º mandato

Caso os resultados das pesquisas eleitorais se comfirmem, o presidente Lula terá imensa dificuldade em formar, não vou nem dizer sólida, base de apoio no Congresso. O sucesso de seu novo mandato passa diretamente pela divisão de poder com outras legendas, pela negociação de políticas públicas e pelo compartilhamento de recursos orçamentários e de cargos. Para pôr em prática este último, terá de cortar muitos cargos e ministérios nas mãos de petistas. E, ao que tudo indica, isto não será´problema.

A maioria dos problemas de seu primeiro mandato passou pela falta de uma base coesa de apoio ao governo, coisa que Fernando Henrique Cardoso conseguiu ao longo de seus dois mandatos, principalmente enquanto o deputado Luis Eduardo Magalhães (PFL-BA) estava vivo e desempenhara, primeiro, a função de líder do PFL e, mais tarde, a presidência da Câmara. Com a morte do pefelista, a situação mudou, mas, mesmo assim, o PSDB tinha maioria no Congresso, pois sempre contou com o apoio "incondicional" do PFL.

Veja abaixo a composição do novo Congresso após a eleição do dia 1º de outubro:


O presidente Lula admitiu, durante seu último comício, realizado quinta-feira (25), na Capela do Socorro (SP), os erros de seu governo, mas ressaltou que o País está melhor do que em 2002, quando assumiu a Presidência. "Reconheço que nós tivemos coisas erradas, mas com tudo de errado que nós fizemos, o País melhorou de forma extraordinária se comparado com o governo dele (Fernando Henrique)", disse ao se despedir de cerca de 7 mil pessoas na Zona Sul. "Esqueçam as pesquisas eleitorais. Peguem as pesquisas de avaliação do governo, que são as melhores dos últimos 15 anos ."

O segundo mandato, de um modo geral, para qualquer que seja o cargo, torna ainda mais sensível e tendenciosa a correlação de forças. Afinal, como não há a reeleição do ocupante do cargo, muitos sentem-se livres para os mais diversos tipos de atitudes, seja não cumprindo acordos, negociando interesses particulares, lançando candidaturas e, por aí, vai... Teoricamente, é quando o poder está vago, o ocupante do cargo impedido de disputar e os demais nomes vão para uma eleição praticamente em igualdade de condições, apesar de contar muito o apoio de um presidente, governador ou prefeito.

Com todas estas "oportunidades" no ar, como segurar "aliados" ávidos pelo poder. O presidente precisará de muito jogo de cintura para manter o controle de sua base. E, no caso de Lula, esse controle será testado todos os dias ao longo dos próximos quatro anos.

Que o primeiro mandato sirva de lição e os erros cometidos ao miturar governo e partido não se repitam.

Para o tudo ou nada

Sexta-feira (27/10), o último debate entre Lula e Alckmin pelo segundo turno das eleições presidenciais de 2006. É o tudo ou nada para o tucano, que, a cada nova pesquisa, vê ampliar a vantagem do petista. Alckmin já foi agressivo (primeiro debate), apostou na saúde (segundo), depois, na carga tributária e política externa. Para o da Globo, qual será a sua tática? Afinal, até agora, nenhuma das adotadas resultou em mudança de opinião, pelo menos segundo todas as pesquisas eleitorais. Aliás, o que se verifica é a consolidação da vantagem do presidente Lula, ampliada na medida de queda da do tucano.
O debate de sexta-feira é aguardado por todos não simplesmente por ser o último antes da eleição, mas por ser na Globo. Quem não se lembra da edição tendenciosa pró Fernando Collor, feita pela Globo, em 1989, após o debate com o petista?
É por isso que devemos ficar atentos. A coordenação de campanha do presidente Lula já o deve ter alertado para não entrar no jogo de provocações e acusações do adversário. Acredito que a recomendação seja para que ele aborde em suas falas as realizações de seu governo. Acho também que Lula deve deixar de lado as comparações com os oito anos do governo FHC.
A sua vantagem permite e recomenda que siga o script de realizações de sua gestão.

24 outubro, 2006

Mais do mesmo

O terceiro debate realizado, ontem à noite, na Record, entre os candidatos Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Geraldo Alckmin (PSDB), pelo segundo turno das eleições presidenciais foi uma repetição dos confrontos anteriores, inclusive na retomada do tom agressivo pelo tucano ("Mentira!") e na comparação que o presidente faz de seu governo com os oito anos de FHC.
Muitos dizem que o debate é o espaço propício para a discussão de programas de governo, mas na prática ocorre exatamente o contrário. Ao candidato que está no governo, cabe sempre a dura tarefa de responder sobre todos os problemas seculares do Brasil que não resolveu em seu mandato e as conquistas que obteve são inferiores ao que "poderia ter sido". Ao adversário, resta uma certa e cômoda posição de cobrar e prometer. Sei que isto faz parte do jogo. "Vou fazer!", "Vou cortar!", "Vou reduzir juros!", "Vou reduzir a carga tributária!" etc.
Ou seja, todas as promessas se encaixam em seu programa de governo e sempre cabe mais uma. É como se ele pudesse, a toque de mágica, criar um novo Brasil. Tudo "só" com palavras, apesar delas também refletirem a intenção. Vão-se as eleições, os presidentes, afinal, após a redemocratização do Brasil, seis nomes passaram pela Presidência da República (Tancredo Neves, José Sarney, Fernando Collor, Itamar Franco, FHC e Lula), mas os problemas estruturais, fruto da colonização, de elites dominantes (apesar do desgaste do termo) e de mentalidades arcaicas e retrógradas, continuam.O discurso do tucano já foi usado por outros adversários, que, ao chegar ao poder, fizeram o quê? Criavam a cada dia um novo plano econômico? Hiperinflação, confisco da poupança, desvalorização? Justiça seja feita, rotina quebrada por FHC com o Plano Real, base para a política implementada pelo governo Lula, com amplo foco para o crescimento econômico, distribuição de renda, inclusão social, recuperação da indústria etc.Em debate, muitas vezes, o que mais conta é a forma, aliás, forma é o que interessa à TV.

O Amigo da Onça

A seis dias do segundo turno das eleições, setores da mídia dão sinais da anunciada derrota de Geraldo Alckmin na disputa para presidente da República. O próprio tucano não sabe mais qual o discurso utilizar nos debates. Debates que, aliás, tem feito bem ao presidente Lula, pois a cada novo confronto, de idéias e programas de governo, Lula adquire firmeza e fala com a autoridade que os números lhe atestam. No caso do tucano, o papel de franco atirador, que, em muito, lembra aquele personagem... o Amigo da Onça, não tem mostrado resultado. E por falar em amigo da onça, em outro posto escreverei sobre a então implosão aos planos de Serra presidente por parte do ex-governador. O que vemos é um candidato atônito que se sustenta em afirmações do tipo "eu vou fazer", "eu vou cortar" e "choque de gestão". Se apenas chavões resolvessem, não seria necessário programa de governo, mas apenas um "presidente bravata". A vantagem de 21 pontos, segundo o Ibope, de Lula sobre Alckmin não é fruto do acaso. Passado o primeiro turno, temos uma nova campanha e apenas dois candidatos. Atrás, é mais fácil desqualificar as pesquisas.Apesar da tão propagada e não menos defendida liberdade de expressão, é nítida a postura de determinados veículos e jornalistas. Alguns dirão que a vantagem do petista aponta a pauta para determinada direção e que os veículos seguem esta bússola. Concordo, mas também concordo que, ao longo do primeiro turno, a "imprensa" tinha uma candidata: Heloisa Helena (PSOL). Acreditavam ser a resposta para a vantagem de Lula. Mais tarde, constatou-se que a candidata tirava votos, principalmente, do tucano.A imbecilidade do dossiê deu o tom, e o discurso, para os últimos dias que antecederam o primeiro turno. O estrago foi evidente. A quem o dossiê beneficiaria, passou à margem e quem pagou o pato, popularmente falando, foi Lula. Acredito que apenas o iG, pois não vi em nenhum outro site ou veículo, colocou no ar a gravação de um delegado da PF negociando com alguns a divulgação das fotos do dinheiro apreendido com petista para a compra do dossiê. Eis o link.Frente a esta grande deixa, o tucano adaptou seu programa: o dossiê contra Serra virou o dossiê contra Alckmin.Inflaram a candidatura do tucano, mas ele não resistiu às primeiras pesquisas. Com as intenções de voto ampliadas a cada levantamento, a candidatura do tucano volta ao papel que deveria ocupar na disputa do segundo turno.Faltou objetividade e imparcialidade aos principais setores da imprensa. Afinal, o dossiê em nada beneficiaria Lula. Mas isso é um detalhe. Não se chuta cachorro morto. A reeleição de Lula estava praticamente assegurada no dia 1º, mas os fatos e a forma como foram explorados pela imprensa podem ser a resposta para parte dos 39.968.369 de votos de Alckmin.

Jornal Nacional - Uma versão bem diferente

José Maria Moreira em 1/8/2005
Como assessor de imprensa do deputado Devanir Ribeiro (PT-SP), tenho uma versão bem diferente da apresentada pelo diretor-executivo de jornalismo da TV Globo, Ali Kamel, em artigo publicado neste Observatório.
No dia 14 de julho, às 19h, a produção do Jornal Nacional, em São Paulo, me ligou querendo falar com o deputado Devanir sobre uma suposta funcionária sua que teria ido à agência do Banco Rural em que houve saques de grandes quantias da conta de Marcos Valério.
Pedi à jornalista da Globo o nome dessa funcionária, a data da visita e o valor do saque. Ela disse que não sabia me dizer, pois a reportagem estava sendo feita por Brasília, mas ficou de tentar conseguir estas informações.
Aqui já há o primeiro problema: a repórter encarregada de ouvir a versão de Devanir não tinha informações básicas sobre a própria matéria! Ela também poderia ter procedido de forma diferente: mesmo nos procurando duas horas antes de o JN ir ao ar, bastaria ter nos pedido a relação de funcionários nomeados no gabinete com os respectivos números de RGs.

RGs diferentes
Mas vamos em frente. Voltei a ligar para essa pessoa, que me disse para ficar tranqüilo que o nome de Devanir não apareceria na matéria, inclusive, a Cristiana Lôbo já havia falado com o próprio deputado. Aguardamos o JN e, para nossa, surpresa, eles citavam uma funcionária de Devanir que "visitou" o banco.
Eles simplesmente mentiram! Ou porque a matéria já estava editada e não havia tempo para mudá-la ou por má fé, tanto que William Bonner diz que "Devanir nega que Maria Aparecida da Silva seja sua assessora", mas afirma taxativamente que "a nomeação dela consta nos registros oficiais da Câmara". Outra mentira.
Em seguida, liguei para a redação afirmando não se tratar da assessora de Devanir e que tinha como provar. Eles mandaram uma equipe para gravar a versão de Devanir, que estava ao lado de sua verdadeira assessora – uma moradora da Zona Leste que tem RG de São Paulo. A pessoa que eles disseram ser funcionária de Devanir tem RG do Distrito Federal.

Checagem mais criteriosa
A repórter foi embora e, em seguida, nos ligou para dizer que o deputado Rodrigo Maia (PFL-RJ) tinha "documento" comprovando ser a pessoa que visitou o banco a funcionária de Devanir. Eles ainda tentavam manter a versão inicial e dar crédito à reportagem. O pseudodocumento de Rodrigo Maia era uma folha sem identificação alguma – e que qualquer um com computador poderia muito bem montar – em que aparecia o mesmo nome da lista que ele (Maia) divulgou!
Quanta ingenuidade! Como aquele papel poderia ser tomado como documento? Enfim, dois outros detalhes:
1) Cristiana Lôbo, muito antes, havia procurado Devanir para falar dessa lista. O deputado disse tê-la alertado que em Brasília há lista para todo o tipo de gosto, e que era preciso tomar cuidado com matéria mal redigida que poderia acabar com a carreira de um político – caso, por exemplo, de Ibsen Pinheiro. Devanir disse claramente a ela que a sua assessora Maria Aparecida da Silva mora e trabalha em São Paulo, e nunca foi a Brasília, tanto que sua contratação foi feita por meio de procuração;
2) Eu, José Maria, liguei várias vezes na noite de 14 de julho para a Cristiana na tentativa, primeiro, de conseguir o nome da suposta funcionária e, segundo, para que corrigissem o erro levado ao ar em horário nobre. Ela me disse já estar em casa e que não havia ninguém na redação que pudesse me passar um fax da lista em que aparecia o nome da suposta funcionária do Devanir.
Dá para acreditar? Se a produção do Jornal Nacional quisesse proceder corretamente – a alternativa é a mera incompetência –, bastaria confrontar os números do RG das duas pessoas. Só isso já seria um alerta de que havia erros na matéria e que ela não deveria ir ao ar sem uma checagem mais criteriosa!