Caros senadores, acompanho o noticiário desde que surgiram as denúncias contra o presidente do Congresso Nacional e, a cada dia, cresce a minha estupefação com o afinco de Renan Calheiros ao poder. A indignação da sociedade brasileira começou no mesmo dia em que Renan se valeu da cadeira de presidente do Senado para fazer a sua defesa, seguindo-se ao pastelão dos cumprimentos.
Mas vamos avançar. Ainda nas primeiras reuniões do Conselho de Ética, a idéia que se passava era que Renan tinha a maioria dos senadores sob seu domínio, inclusive os parlamentares do PT. Justiça seja feita, o segundo discurso mais fervoroso em defesa do presidente da Casa veio da senadora Ideli Salvatti, que vociferava aos quatro ventos a inocência do peemedebista. Tuma também teve o seu rompante. Até entendo a determinação do governo para que os petistas defendessem Renan, afinal estava em jogo algo maior: a composição da base de sustentação no Congresso Nacional. Tudo bem, ninguém quer um PMDB dividido nas votações ou se rebelando. O governo fez a sua parte, mas a senadora também poderia ter feito a dela sem afrontar a inteligência do brasileiro, que sabe, fosse outro o cenário, Ideli seria uma das primeiras a abrir as vísceras de Renan. O seu discurso não poderia ter sido mais pastelão.
Quem estava cobrando investigações eram os democratas, peemedebistas, pedetistas e o PSOL. Pedro Simon, Arthur Virgílio, Jefferson Peres, Jarbas Vasconcellos, José Agripino, Sérgio Guerra, Demóstenes Torres, Tasso Jereisatti, Eduardo Suplicy, Sibá Machado. Estes eram os contrários à operação abafa. O papel dos senadores Romero Jucá (o das fazendas aéreas), Wellington Salgado e Ideli só encontra amparo nas farsas mais farisaicas.
Também tenho críticas à imprensa, que, ao ouvir Renan, não o confronta com as denúncias. Renan afirma que não quebrou o decoro e os jornalistas não devolvem a pergunta com as acusações que publicarão no dia seguinte. É medo de confrontar o presidente do Senado? Se os jornalistas não o fazem diretamente, imagine um senador? Demorou, mas o clamor da sociedade quebrou as barreiras e primeiras vozes dissonantes por investigação puderam ser ouvidas.
Renan adotou uma tática errada. Ao dizer que não arreda pé, fica apenas com duas opções: ser absolvido ou cassado. Ele próprio queimou os seus barcos. O caso não teria ganhado tamanha repercussão se Renan não tivesse apostado em seu poder de coerção. Na frente ele mostra tranqüilidade, mas nos bastidores não são poucas as denúncias de armações e boicote ao Conselho de Ética.
Renan não se deu conta de que a vaca foi para o brejo. O respeito que os senadores têm por ele se esvai a cada novo golpe contra o processo de investigação. Para resumir: dos inúmeros aliados inicias, ontem (3 de junho), quando vários líderes abertamente sugeriram e pediram que se afastasse da presidência do Senado durante as investigações, apenas um tentava fazer com que as tudo voltasse à estaca zero (Almeida Lima), nem a Mesa, onde Renan tinha quatro aliados, embarcou. Devolveu o abacaxi para o Conselho de Ética.
Agora, o que espero, e acredito ser o desejo da sociedade, é que realmente todas as acusações contra o presidente do Senado sejam investigadas. Acredito que ainda há espaço (e apoio do governo) para que se negocie a saída de Renan, que, necessariamente (se for o caso), pode não ser um eventual processo de cassação, afinal, desde que as denúncias surgiram, só aumenta o buraco em que o peemedebista se meteu. A saída está em suas mãos, Renan.
José Takayama
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