15 junho, 2007

Situação de Renan fica insustentável

A atuação de três senadores me chamou a atenção durante a reunião do Conselho de Ética, realizada hoje (15 de junho). A primeira, já citada. A segunda, e acredito ser a mais importante, do senador Demóstenes Torres (DEM-GO). O democrata foi um dos mais enfáticos em querer que se investigue as novas denúncias, apresentadas pelo Jornal Nacional, na quinta-feira (14/6). E por último, temos o senador Romero Jucá, líder do governo.

Renan não participou diretamente da reunião do Conselho de Ética, na qual dava como certo o arquivamento de seu processo, mas se fez representar pelo líder Jucá, a quem coube várias intervenções para atestar que o senador já havia esclarecido tudo, inclusive as denúncias do Jornal Nacional. Quando discordava de algo, Renan ligava para Jucá, aquele senador que era ministro da Previdência, que teria dado fazendas inexistentes como garantia a empréstimos públicos e que teve de deixar o cargo.

Com o decorrer da reunião, Renan informou a Jucá que encaminhasse o adiamento da votação para a próxima semana, tempo necessário para que o presidente novamente comprovasse a sua inocência.

Quem não concordou muito com a idéia foi o relator Epitácio Cafeteira (PTB-MA), que ameaçava renunciar à relatoria, caso a votação fosse adiada para terça-feira (19), repassando a função para a senadora Ideli. Mas essa idéia não durou muito e foi logo rechaçada quando disse ter recebido o telefonema de sua mulher, que teria lhe dito que o senador Renan lhe pedira para aceitar o adiamento e permanecer como relator. Houve quem dissesse que Cafeteira havia, sim, recebido uma ordem do presidente do Senado.

Resta saber até quando Renan conseguirá manter os senadores sob seu domínio e até quando o governo vai bancar o seu nome. Caso apareça alguma reportagem com denúncias contra ele ou pondo em dúvida as suas explicações, é bem provável que o Executivo lave as mãos deste aliado. Não fosse Renan o senador sob investigação, é bem provável que seu destino já estaria traçado, apesar de todo o corporativismo que envolve o “Senado da República”, como gostam de dizer os parlamentares.

A sobrevida de Renan, em grande parte, se dá pela necessidade que o governo tem de ter o PMDB em sua base de sustentação, mas nem isso é fundamenta, afinal, rei morto, rei posto. Com o agravamento das denúncias, as pretensões aparecem e deve ter muito parlamentar de olho na presidência do Senado.

Uma fonte e duas situações antagônicas

Vamos retroceder um pouco no tempo. Logo em que surgiram as denúncias de que o presidente do Senado, Renan Calheiros, teria despesas particulares pagas por um lobista de empreiteira, a imprensa só inquiria Renan sobre a origem dos recursos repassados a uma jornalista com a qual teve uma filha. Alguns dias depois, o mesmo probo senador era a fonte para repudiar as críticas do presidente da Venezuela, Hugo Chaves, ao Senado brasileiro.
Entendo perfeitamente que uma das pessoas mais aptas a ser ouvida neste caso era, claro, o presidente do Senado. A meu ver, só existe um problema nesta equação: é a mesma pessoa. No caso, um senador sob investigação do Conselho de Ética. Mas, para a imprensa, neste momento, as denúncias eram irrelevantes, e Renan estava amparado moralmente para defender o Senado brasileiro.

Como? Não dá para dissociar as figuras. Qualquer pessoa mais esclarecida, no mínimo, estranharia a mesma altivez dos jornalistas na inquirição sobre Chaves e sobre as denúncias feitas por uma revista contra o senador. Ou seja, de manhã, o senador tinha suas contas questionadas, e à tarde, expressava com altivez a fúria dos senadores.
Cadê o senso crítico dos jornalistas que cobrem Brasília? Com certeza, não faltaria pessoas capacitadas para defender o Senado que não o seu presidente. Mas os jornalistas nada diferenciaram.

Passada a fúria, nada injusta, contra o presidente da Venezuela, de volta à denúncia, Renan tenta manter-se no cargo sob a blindagem de seus pares.